sábado, 27 de junho de 2009

Desespero


Há um grito no meu peito,
há um grito em cada peito.
Um desespero contido,
preso entre o umbigo
e o estõmago,
preso no pulmão
de quem por ventura
não consegue gritar.

E assim se vai, e assim vamos todos,
escondidos em nossas sombras
das quais, o refúgio e a sela, nos fazem,
protegido e prisioneiro.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Parte




Sempre há um coração.
Em tudo o que faço
há meu coração,
em tudo o que vós digo
há uma mínima parte de mim.

E por força disto, no que escrevo
há muito de mim
em tantos pequenos pedaços,
partes tão infimas
que as vezes chego a pensar
que não há.

Entretanto, aqueles que me amam
sabem encontrar essas partes
e as entender.
Mesmo quando, eu mesmo
já as quero esquecer.

Domingo


O céu nublado, o vento frio e com ele o leve farfalhar das folhas, mais um dia, domingo . Sentei-me na grama do jardim, melhor deitei-me sob uma Paineira, ao longe bem acima das folhas que se desprendiam as nuvens pairavam a favor do vento. Apesar do frio me lembrar o fim do outono o ceu pesado me remetia a Janeiro, melhor dizendo a algum outro domingo atoa daquele mês, quando deitado no mesmo lugar que hoje estava assistia a alegria dos piriquitos e maritacas que fuçando nas painas espalhavam por toda a volta da grama o algodão nelas contido. Vez por outra saiam em revoadas, sempre aos bandos, a assustar qualquer outro pássaro ali por volta, inclusive às galinhas da angola.

Estranho ver como em pouco tempo tanta coisa pode mudar, agora os galhos quase sem folhas, retorcem-se ao frio, e as árvores mais velhas rangem com o vento, e ao invés da algazarra dos piriquitos, ouço apenas ao longe o comprido lamento de uma gralha, as angolas amontoam-se sobre as folhas mortas , ou correm para roubar a ração dos cachorros enquanto estes caçam algum raio de Sol.Embora tudo isso pareça muito pitoresco, dei-me conta que minha vida não era senão espelho disso.