segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Jardim


contemplo a imensidão
que se prende em meu jardim
de plantas a insetos, a solidão
em uma mesa do austral.
Um mundo corre, voa
mas o meu é aqui feito de passaros atoa.

Os muros prendem o poente
que desce pelo vermelho dos telhados
ainda tento e me ergo nos pes relutantemente
mas a cidade me deixa aqui trancado
em meu eterno mundo
na minha mente profundo.

Voam as borboletas nas flores
libélulas, mariposas, abelhas
seguindo odores.
Há um canto de pássaros em minhas orelhas.
Retumba o vento nos coqueiros
florescem os canteiros.

Olho a vida que mergulha
na grama confusa
enquanto o sol solta sua ultima fagulha
olho a minha imensidão, musa
com todas as suas grandezas metrificadas
em um jardim de quatro beiradas.

sábado, 8 de agosto de 2009

Negrumes e ventos



A noite era quente, a bruma enchia os vales, penetrava as florestas, escondia os riachos. Levantou-se foi ate a janela, abriu-a e olhou as estrelas e a Lua que brilhavam como se acabassem de ter sido criadas.

Teve um certo medo daquela imensidão, escura, mormurante, essa escuridão que só se vê em fazendas, que só a sabe quem já conviveu consigo, trancado em pensamentos, pois todo o homem é negrume e vento por dentro.

Olhava profundo as folhas que não se acalmavam, balaçando com o vento fresco, o mesmo que o agitava por dentro e não o deixava adormecer. Trazia consigo uma certa angústia, um negrume que não o deixava em paz, recostou os cotovelos sobre o batente de uma das janelas, assistiu o céu, fitou fixamente um ponto, um que brilhava, brilhava com uma luz de longe, uma luz de passado; viu então mais longe, cada vez mais, via a escuridão passar ao seu redor, via esferas incandescentes passar-lo, via planetas e nebulosas, brumas coloridas, sentiu o calor e o frio, o vento e sua ausência e enfim a luz, uma cegueira clara.

sábado, 4 de julho de 2009

Sobre o amor




"Toda a forma de amor é um egoísmo
amamos a nós mesmos,
toda a pessoa amada é um espelho.
Quando lhe faltar a coragem,
para aceitar te a tí próprio
corres para teu amor,
pois ele reflete
o que por medo
não queres dizer para sí."

Esperança


Anseios vãos da esperança
mãe da tolice humana
da luta que nada alcança,
não deixa de ser mundana
ja que de ti a força e a garra
em nossas faces cansadas escarra.

Quanto a nós sujos dos desejos não satisfeitos
nutrimo-a como se tardasse a morte
e ainda que tarde, e morra nada é feito,
mas nós voltamos, sem aquela sorte
aquela inicial, contudo com esperança,
e providos dela nao tememos o mundo nem a lança.

Pobre de quem espera
sentado sobre o banco do tempo
o vagaroso passar de mais uma era.

sábado, 27 de junho de 2009

Desespero


Há um grito no meu peito,
há um grito em cada peito.
Um desespero contido,
preso entre o umbigo
e o estõmago,
preso no pulmão
de quem por ventura
não consegue gritar.

E assim se vai, e assim vamos todos,
escondidos em nossas sombras
das quais, o refúgio e a sela, nos fazem,
protegido e prisioneiro.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Parte




Sempre há um coração.
Em tudo o que faço
há meu coração,
em tudo o que vós digo
há uma mínima parte de mim.

E por força disto, no que escrevo
há muito de mim
em tantos pequenos pedaços,
partes tão infimas
que as vezes chego a pensar
que não há.

Entretanto, aqueles que me amam
sabem encontrar essas partes
e as entender.
Mesmo quando, eu mesmo
já as quero esquecer.